A primeira semana de outubro marca o aniversário da República Popular
da China, fundada por Mao Zedong, em 1949. Apesar das festividades
realizadas pelo governo há algo que não se verá na China: manifestações
organizadas pela própria população, como ocorreu no Brasil, em junho
deste ano, bem como em 7 de setembro.
Não é nenhum segredo que a China não gosta de protestos em massa e restringe, e muito, a internet.
Para isso, o país possui padrões de censura em redes sociais. De acordo
com estudos do cientista político Gary King, o partido comunista chinês
promove o maior ato de restrição à liberdade de expressão da história
da humanidade. Cerca de 50 mil profissionais participam do processo,
isso se deixarmos de fora mais 300 mil integrantes do partido que também
colaboram, assim como as empresas privadas, que precisam revisar o
conteúdo dos seus próprios sites.
O primeiro estudo
conduzido pela equipe de King em 1.382 sites chineses analisou
publicações sobre diversos temas em intervalos de tempo variados para
descobrir como foram censurados 11 milhões de posts sobre 85 temas
diferentes, de política a videogames. No segundo estudo,
King e companhia criaram disfarçadamente contas falsas em 100 sites de
redes sociais e publicaram conteúdos para ver quais seriam barrados – e
chegaram ao ponto de criar uma mídia social própria na China.
Todo
esse trabalho levou a duas conclusões: a infraestrutura de censura da
China é incrivelmente eficiente, já que os posts indevidos foram
removidos em cerca de 24 horas com eficácia militar. E os censores
chineses se concentram em conteúdos que se referem, instigam ou de
alguma forma se relacionam a ação coletiva, como protestos organizados –
mesmo que sejam apolíticos. Além disso, o governo parece um pouco mais
confortável com críticas ao governo do que com possíveis manifestações.
Por exemplo, a mensagem abaixo não foi censurada:
"O
partido comunista chinês fez uma promessa de um governo democrático,
constitucional no começo da guerra de resistência contra o Japão. Mas 60
anos mais tarde essa promessa ainda precisa ser honrada. A China hoje
tem uma falta de integridade, cuja responsabilidade deve ser rastreada
até Mao. […] A democracia intra-partidária adotada hoje é apenas uma
desculpa para perpetuar o regime de partido único".
Enquanto esta, que se refere a um homem-bomba cujas casas foram demolidas, foi vetada:
"Mesmo
que possamos verificar o que Qian Mingqi afirmou no Weibo que a
demolição do edifício causou uma grande quantidade de dano pessoal,
ainda devemos condenar seu ato extremo de vingança .... O governo tem
continuamente aprovado medidas e leis para proteger os interesses dos
cidadãos nas demolições".
Mas isso não significa que você não
possa ir preso na China por criticar o governo. Recentemente, o jovem
que publicou uma mensagem com conteúdo visto como irregular, que foi
retuitada 500 vezes no site Sina Weibo, foi detido.
Segundo King,
há duas razões para isso: ao permitir a expressão de insatisfação, o
governo evita que cidadãos tomem medidas mais drásticas em razão do
estresse; e essa relativa clemência é uma forma do governo entender os
problemas que merecem atenção.
"De certa forma, é o mesmo que acontece na América ", afirmou King, de acordo com a Reuters.
Grandes empresas de tecnologia nos Estados Unidos, como o Google ou o
Facebook, são obrigadas por lei a monitorar e censurar o conteúdo
ilegal, como pornografia infantil. O governo tem a capacidade de
pressionar as companhias para obter as informações que deseja, como
mostrou o caso do monitoramento de dados da NSA (Agência de Segurança Nacional dos EUA).
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