terça-feira, 24 de setembro de 2013

Acoplagem da cápsula Cygnus atrasada por causa de um bacalhau

Cygnus_high
Um dos motivos da SpaceX ser tão inovadora e bem-sucedida é a existência de competição. Não só precisam ser mais atraentes que a NASA, os chineses, japoneses e russos, como também precisam enfrentar outras empresas, e agora entrou mais uma no páreo, a Orbital. Não que sejam novatos, já fazem lançamentos faz tempo, inclusive com o interessante sistema Pegasus, onde um avião comercial modificado leva o foguete até uma altitude de 40 mil pés, e lança de lá. É uma coisa bem James Bond, assista:
Boa parte da tecnologia da Orbital é baseada em sistemas antigos, mas vão muito além da clássica “transformar espadas em arados”. Não só boa parte do segundo estágio é baseado no míssil nuclear Peacekeeper, como os motores do primeiro estágio, Aerojet AJ-66 são baseados no design do motor soviético NK-33, que equiparia o equivalente russo ao Saturno V.
Eles compraram o projeto, aperfeiçoaram e tem dado certo. Claro, a Aerojet tem mais de 70 anos. Não são novatos. Até os retrofoguetes do trenó da Curiosity são deles.
A estrela da vez é a Cápsula Cygnus. Não é uma Ferrari como a Dragon, não é projetada para levar passageiros e não tem capacidade de reentrada. Não é nem feio dizer que ela parece uma lata de lixo, pois é nisso que ela se transforma no final da missão; queima na atmosfera com lixo da ISS.
Dia 18 foi o primeiro lançamento de testes dela, empurrada por um foguete Antares, e tudo correu maravilhosamente bem. Com o bônus de nenhum sapo ter sido obliterado durante o processo.

A acoplagem com a Estação Espacial Internacional estava prevista para domingo, dia 22, e no dia 21 já estava a apenas 400 km de distância e 4 km mais abaixo da ISS, se aproximando só no sapatinho, a 24 km/h de velocidade relativa. Só que na madrugada de domingo, rolou o clássico “Houston, temos um problema”.
A Cygnus já estava em contato direto com a ISS, mas os dados não estavam sendo aceitos pelo computador da nave. Aparentemente uma discrepância nos formatos impedia que a Cygnus entendesse o que a ISS estava dizendo. Alarmes automáticos foram acionados, a acoplagem foi abortada.
Quem é de TI sabe o trabalho de corno que é fazer migração de dados. Aparecem os formatos mais exóticos imagináveis, exceções se empilham e aquela mexida que você tinha certeza que nunca daria problema, derruba o sistema inteiro.
Lembre-se, estamos lidando com tecnologia dos Anos 70 que vem sendo upgradeada na marra, muitas vezes.
antares
Os programadores da Orbital correram e escreveram um bom e velho bacalhau pra tratar a exceção (aposto meu Bônus de Natal que é um bom e velho “IF (formato_exótico) THEN ignore_formato” e olhe lá). Agora estão testando nos simuladores e deveriam fazer o upload (dessa vez, literalmente) e dar prosseguimento à acoplagem na noite de hoje.
Só que não deu tempo da NASA certificar as alterações. Para complicar, uma Soyuzvai delocar dia 25, chegando alguns horas depois na Estação, levando três astronautas. Iniciar a acoplagem da Cygnus, uma nave não-testada, com tão pouca margem seria temerário. Se algo der errado, é no mínimo sacanagem mandar os caras esperarem sabe-se lá quanto tempo. Digamos que a Soyuz não é exatamente uma nave espaçosa.
Inside the Soyuz
Como resultado, a NASA e a Orbital decidiram que o melhor é tentar a acoplagem só dia 28, até por questões de mecânica orbital. Não é o ideal, mas acontece, A carga de 700 kg não é essencial, mas os astronautas não ficarão tristes quando a Cygnus levar embora 1,1 tonelada de lixo.
Esperemos que tudo dê certo, e que isso incentive a Sierra Nevada Corporation a acelerar o desenvolvimento do Dream Chaser, outra nave do projeto de parceria da NASA com a iniciativa privada, e a única que se parece com o que imaginamos que uma nave espacial deva se parecer:
Dream_Chaser_pre-drop_tests.6

Via: Meiobit

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