Um acúmulo de erros percebidos sob a liderança de Steve
Ballmer podem ter chegado a um ponto de virada neste ano, levando ao
anúncio feito nesta sexta-feira, 23/8, sobre a saída do executivo do seu
cargo de CEO da Microsoft nos próximos 12 meses.
Nos últimos anos, Ballmer tem sido alvo de críticos por
uma variedade de questões, incluindo a insatisfação com o desempenho das
ações da Microsoft, o domínio do Google no mercado de publicidade em
buscas, a percepção de que a Microsoft reagiu tarde à computação em
nuvem e a posição fraca da companhia nos mercados de smartphones e
tablets.
Mais recentemente, Ballmer esteve em maus lençóis por
causa do Windows 8, que muitos perceberam como um lançamento fracassado.
Alardeado como um produto de importância histórica, o Windows 8
representa a tentativa da Microsoft de melhorar sua ainda anêmica
participação nos smartphones e tablets, áreas dominadas pelos sistemas
Android, do Google, e iOS, da Apple.
No entanto, o Windows 8, que foi lançado em outubro de
2012, tem recebido críticas pesadas por causa da sua interface
radicalmente redesenhada, que é baseada em ícones de “tijolos” e
otimizada para tablets e outros aparelhos com tela sensível ao toque.
O Windows 8 também possui uma interface desktop mais
tradicional para rodar aplicativos de legado, mas muitos usuários finais
e corporativos reclamaram que a mudança entre as duas interfaces é
incomôda e incoveniente. Também houve chiadeira pela retirada do botão
de Start do menu.
A Microsoft, inclsuive, planeja lançar um update para o
sistema, chamado de Windows 8.1, no próximo mês de outubro. A
atualização vai resolver essas reclamações e muitas outras, mas há a
preocupação de que essas resoluções não sejam o bastante e cheguem tarde
demais para salvar a reputação do sistema, que poderia acabar sendo um
fiasco no estilo Windows Vista.
Alguns críticos sustentam que tentar criar um único
sistema operacional para desktops, notebooks e tablets foi um erro
estratégico porque a Microsoft acabou ficando, em vez disso, com um
produto que não era bom o bastante para nenhum desses aparelhos. A
estratégia da Apple, por outro lado, tem sido ter o Mac OS para desktops
e notebooks, e o iOS para iPhone, iPad e iPod, mas tentar aproximá-los
por meio de recursos iguais, layouts parecidos e outras coisas do tipo.
Outro foco de críticas contra Ballmer tem sido o que
muitos consideram uma estratégia ruim relacionada ao fato de não lançar
versões completas do pacote Office para aparelhos iOS e Android. Vista
como um movimento para proteger o Windows, os críticos dessa estratégia
dizem que a Microsoft está deixando de ganhar bilhões de dólares ao não
dar apra os usuários de iPads e tablets Android uma versão completa do
Office.
Ballmer também carrega a culpa pela decisão controversa e
não muito bem-sucedida da Microsoft fabricar e vender seu próprio
tablet, o Surface, em uma tentativa de imitar o modelo popularizado pela
Apple com sua combinação do iOS e aparelhos como iPhone, iPad e iPod.
A decisão irritou as fabricantes parceiras da Microsoft,
que enxergam a ação como uma competição inesperada vinda da própria
Microsoft. Além disso, os primeiros modelos do Surface não venderam bem.
Em seu quarto trimestre fiscal, que fechou no último mês
de junho, a Microsoft ficou abaixo das expecativas de receita e lucro de
Wall Street, enquanto tomou um prejuízo de quase um bilhão de dólares
pelas vendas fracas do Surface RT, modelo do tablet que roda o sistema
Windows RT, versão do Windows 8 para aparelhos com chip ARM.
Já o outro modelo do Surface, o Pro, que roda com chips
x86, foi criticado por ser muito caro e ter uma bateria que não dura
muito.
No último mês de julho, Ballmer deu uma chacoalhada nos
executivos da empresa com uma ampla reorganização alardeada como
necessária para reinventar a Microsoft como uma companhia de aparelhos e
serviços, e evoluir do papel de ser uma fornecedora de software
empacotado.
O objetivo é fazer com que a Microsoft funcione de forma
mais coesa, eficiente e inovadora para poder competir melhor contra
rivais como Apple, Google, Oracle, e IBM.
A reorganização, que está sendo implementada no momento,
dissolveu as cinco unidades de negócios da empresa – Divisão de
Negócios, que tinha o Office; Servidor e Ferramentas, que tinha Servidor
SQL e System Center; a Divisão Windows; Serviços Online, que incluía o
Bing; e Entretenimento e Aparelhos, cujo principal aparelho era o
videogame Xbox.
Essas unidades de negócios estão sendo substituídas por
quatro grupos de engenharia organizados por função, em torno de
sistemas, aplicativos, computação na nuvem e aparelhos, e por grupos
centralizados para marketing, desenvolvimento de negócios, estratégia e
pesquisas, financeiro, recursos humanos, operação e departamento legal.
No entanto, esse plano também tem encontrado ceticismo
entre quem acredita que ele vai levar a menos contabilidade, menos
clareza, e, por fim, menos agilidade.
Outros sustentam que o mantra “Uma Microsoft” no centro da
reorganização é desorientado porque a abordagem contrária é necessária,
especialmente para reorganizá-la em companhias de operação mais
independente porque agora possui negócios e produtos que são muito
diferentes – como a base de dados para empresas SQL Server e o Xbox.
A saída de Ballmer será um ponto histórico para a
Microsoft. O executivo, que tem 57 anos e entrou para a empresa em 1980,
é CEO desde 2000. Em um comunicado (leia aqui a íntegra em português), ele disse que a decisão de sair não foi fácil, mas que ele acredita ser a coisa certa a fazer.
Em particular, ele está convencido de que a Microsoft
deveria ter um CEO que esteja a bordo durante todo o processo de
“transformação” que será impulsionado pela reorganização anunciada em
julho.
Até o momento, a resposta do mercado tem sido bem positiva
à saida de Ballmer, com as ações da Microsoft subindo quase 7% durante a
manhã.
Via: IDGNow
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