Fernanda Sampaio, gerente de contas do Google: bônus de 5 000 reais por ter indicado a melhor amiga, Kristiane Corrêa, para uma vaga na empresa. As duas vão gastar o dinheiro juntas numa viagem nas próximas férias |
São Paulo - Fernanda Sampaio trabalha no Google Brasil como gerente de
contas há dois anos. Nos últimos meses, recebeu um bônus, muito
bem-vindo, na hora de dar entrada em seu novo apartamento. Isso sem
fazer hora extra.
Bastou indicar Kristiane Corrêa, sua melhor amiga, para uma vaga
disponível na empresa. Histórias como a de Fernanda são cada vez mais
comuns no ambiente corporativo.
Diante da escassez de profissionais especializados no mercado, a área de recursos humanos
está precisando usar a criatividade para preencher novas posições e tem
apostado na simples e eficiente política do “indique um amigo para
trabalhar conosco”, ou QI, abreviação para “quem indica” .
Segundo pesquisa divulgada pela consultoria Delloite, 68% das
companhias brasileiras já utilizam a indicação de outros funcionários
como um dos métodos oficiais para a contratação de profissionais de
nível superior para cargos não executivos. O mecanismo perde somente
para a prática do recrutamento interno, realizada por 72% das empresas.
Fábio Mandarano, gerente da área de capital humano da Delloite, explica
que essa forma de seleção sempre foi utilizada no Brasil, mas, diante
da atual conjuntura econômica e do apagão de mão de obra qualificada,
ela tem ganhado novos adeptos. “Essa mesma pesquisa, em 2009, indicava
que apenas 44% das organizações utilizavam esse método”, diz o gerente.
Mandarano afirma que, atualmente, encontrar perfis de nível superior
com habilidades bem específicas é uma missão árdua, principalmente se a
busca for de profissionais de áreas técnicas. Nessas ocasiões, o método
da indicação é uma ótima solução.
“É mais fácil usar as redes sociais dos próprios empregados, que já
fazem parte de uma comunidade, e assim a informação vai ser divulgada de
forma mais rápida e eficiente. Um profissional de RH levaria muito mais
tempo para localizar esses nichos e se inserir nele”, diz Mandarano.
Que o diga Ana Carolina Azevedo, gerente de recrutamento do Google
América Latina. Ela lidera o Employee Referral Program, utilizado pela
matriz nos Estados Unidos e implantado no Brasil em 2005. “O
funcionamento é simples. Se um de nossos funcionários conhece alguém que
deseja indicar para uma vaga em aberto, basta inscrever essa pessoa
para a posição por meio de nosso site.”
Se, depois de passar por um processo de triagem e seleção, o candidato
receber uma proposta e começar a trabalhar, a pessoa que o indicou fica
elegível ao bônus de 5 000 reais, que estará no contracheque do mês
seguinte.
Há uma área especial na intranet com todas as regras e explicações
sobre o processo, que virou uma prática comum entre os googlers, como os
funcionários do Google se autodenominam. Embora a companhia não abra o
número de vagas que já fechou por esse método, Ana Carolina afirma que,
de tanto indicar gente, alguns funcionários já acumularam um bônus bem
gordinho, gerando uma boa renda extra.
“A gente até já sabe quem são os mais certeiros, que mandam sempre boas
indicações. São aqueles que carinhosamente chamamos de ‘amigos do RH’”,
brinca. Além de ajudar na entrada do apartamento, Fernanda vai usar o
bônus que ganhou numa viagem que fará com Kristiane nas próximas
férias.
O melhor custo-benefício
O consultor Fábio Mandarano considera o prêmio um ótimo atrativo para
que os funcionários sejam cuidadosos em suas indicações. “Quem quiser
marcar um gol vai precisar procurar por alguém que se torne a primeira
opção do recrutador, ou seja, as chances de os currículos enviados ao RH
serem de qualidade são grandes”, diz.
E, claro, quanto maior a recompensa, maior a dedicação na busca. “Para
quem é mais jovem e está em início de carreira, o valor do bônus é
muitas vezes maior do que o próprio salário, tornando a premiação um
grande incentivo para fazer da busca de perfis uma fonte de renda
extra”, diz Ana Carolina. “Unimos o útil ao agradável e todos saem
ganhando.”
A IBM é outra empresa adepta da técnica do QI. “Somos muitos e nossos
funcionários sempre costumam conhecer alguém para indicar, seja para
vagas de TI, seja para a área de serviços”, diz Adriana Vasconcelos,
gerente de recrutamento. Como a prática já faz parte da cultura da
companhia, apenas em 2008 a IBM criou um programa para bonificar os
funcionários que indicam profissionais. Mas não vale para qualquer
posição.
O Employee Referral Bonus Program (ERBP) nasceu para preencher apenas
as vagas mais críticas ou que exijam alta especialização. “Todas as
vagas que abrimos ficam disponíveis em nossa intranet. Mas somente
algumas entram no programa, que oferece um bônus que varia de 1 000 a 3
000 reais, dependendo do cargo”, esclarece Adriana.
Seguindo a tendência, neste ano o número de recrutamentos realizados
pelo ERBP duplicou, reflexo da dificuldade cada vez maior de encontrar
certos perfis no mercado. “O programa decolou este ano, se tornando
muito mais ativo. A escassez de mão de obra mais especializada é a
grande responsável por isso”, afirma Adriana.
Se para o funcionário é bom, para o RH é ótimo. A alternativa tem
tornado mais ágil o preenchimento das vagas e reduzido os custos do
processo. “O prêmio que oferecemos é sempre menor do que o valor que
pagaríamos a uma agência especializada em recrutamento”, afirma.
Além do custo, outra vantagem é a qualidade dos currículos que chegam ao
RH por meio dos programas de indicações. “Quem está na IBM conhece
muito bem o nosso ambiente de trabalho e o perfil de profissional que
costumamos contratar. Sem contar que nenhum funcionário nosso vai
indicar alguém que não admire ou em quem não confie”, diz Adriana.
Com planos agressivos de expansão, a área de recursos humanos da
mineradora Yamana decidiu engrossar a lista das organizações com
programas de indicação de funcionários, lançando o seu há apenas dois
meses. “Devemos instalar quatro novas unidades no Brasil, abrindo 1 500
vagas nos próximos dois anos”, diz Ana Cláudia Nery, coordenadora de
recursos humanos.
O foco da Yamana é o preenchimento de posições na área de operação, e
não de gestão. “Temos um público muito especializado e vamos precisar de
uma quantidade muito grande de mão de obra de qualidade”, diz Ana
Cláudia. “Com a iniciativa, queremos estimular nossos operadores e
supervisores a indicar novas pessoas, já que existe bastante troca de
informações e contatos entre os funcionários.”
Para acelerar as contratações
O empurrãozinho para que isso aconteça vem em forma de bônus. Os
prêmios serão oferecidos a quem indicar um profissional que consiga
passar por toda a seleção e pelos três primeiros meses de experiência.
Depois, quem indicou receberá um cartão eletrônico com valores que
variam de 150 a 600 reais para os cargos de operação, supervisão e
liderança, respectivamente.
Para divulgar o programa, a Yamana tem investido na comunicação
interna, colocando todas as informações na intranet, para quem trabalha
nos escritórios, e nos murais, para os demais funcionários.
O objetivo é que todos saibam da nova forma de recrutar pessoas e
possam contribuir na empreitada. Apesar do pouco tempo, o programa já dá
resultado. “Temos vários programas de seleção acontecendo”, diz Ana
Cláudia, RH da mineradora Yamana. Sabendo de tudo isso, procure se
informar se na empresa que seus colegas trabalham a indicação é
utilizada pela área de recursos humanos na hora de contratar. Pode ser
um canal importante caso você deseje mudar de emprego ou se recolocar no
mercado de trabalho.
Via: Exame
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