Há cerca de um ano e meio, durante a cobertura da CES 2012 em Las
Vegas, numa sala escura e distante do pavilhão principal do evento tive
um encontro inesperado com uma criatura estranha: era um notebook contorcionista,
que também podia ser usado como um tablet ou se dobrar para assumir
formas intermediárias. Na época o hardware era um protótipo e estava
rodando software inacabado (uma prévia do Windows 8). Some isso à rápida demonstração que vi e não pude tirar muitas conclusões sobre a máquina.
Com o Windows 8 nas lojas, o protótipo virou produto. O Lenovo IdeaPad Yoga 13 (vou chamar só de “Yoga 13” para encurtar) é um membro de uma nova geração de Ultrabooks híbridos,
que tentam unir as melhores características de um notebook e de um
tablet em um único pacote. A idéia é tentadora: em vez de comprar um
notebook e um tablet, o usuário pode ter apenas um aparelho e escolher o
modo que mais lhe agrada. Mas será que dá pra agradar a todos com um só
produto?
Design e hardware
O Lenovo IdeaPad Yoga 13 (vou chamar só de Yoga 13 para encurtar) é
uma máquina sóbria e elegante, com acabamento em prata no exterior e
preto em um material emborrachado ao redor do teclado. À primeira vista
ele é um notebook comum, com um teclado preciso e confortável e um
trackpad multitoque em frente à tela. Esse é o modo Notebook, ideal para trabalhar.
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| Yoga 13 no modo Notebook |
Agora empurre a tela. Isso, um pouco mais. Continue empurrando...
pronto! Ela gira 360º e pode ser fechada sobre as costas da máquina,
transformando-a em um imenso tablet. Nesse modo o teclado e o trackpad
(que ficarão atrás da tela) são desativados. É o modo Tablet, para navegar na web, assistir a vídeos ou matar o tempo com um joguinho.
Quando o primeiro iPad foi lançado, foi alvo de críticas por ser
“grande” (com sua tela de 9.7 polegadas) e “pesado” (680 gramas). Pois
no modo tablet o Yoga 13 é ainda maior e mais pesado: são 33 cm de
largura, 22,5 cm de altura, 1,7 cm de espessura e peso de 1,54 Kg.
Esqueça a idéia de segurá-lo com uma só mão, e mesmo com as duas é fácil
se cansar após um curto período.
Como outros tablets com Windows 8 ele foi feito para ser usado
“deitado” (modo paisagem), e nesse modo digitar no teclado virtual
usando os dedões é impossível: eles simplesmente não alcançam as teclas
no centro da tela. Já “em pé” (modo retrato) há um outro problema: por
causa da proporção widescreen da tela o Yoga 13 é comprido e
desengonçado.
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| Yoga 13 no modo Tablet. Marcas de dedo na tela são inevitáveis |
Ainda há dois modos intermediários. É possível colocar a máquina com o
teclado virado para baixo sobre a mesa e a tela voltada ao usuário, o modo Tela (ideal para assistir vídeos no avião, por exemplo), ou fazer uma “cabaninha” com ela em um V invertido. É o modo Tenda, recomendado, por exemplo, para apresentações onde o usuário precisa interagir com a tela.
Tela, aliás, que agrada bastante. Ela é brilhante, tem excelente
ângulo de visão graças à tecnologia IPS (as cores não distorcem,
invertem nem perdem o brilho, não importa o ângulo que você olhe para
ela) e resolução de 1600 x 900 pixels em 13,3 polegadas. Como convém a
um híbrido com Windows 8 ela é uma tela multitoque capacitiva, capaz de
reconhecer até 10 toques simultâneamente.
Por causa do design “mutante” há alguns detalhes incomuns para quem
está acostumado com um notebook: há botões de volume na lateral
esquerda, próximo à frente da máquina. O botão liga/desliga fica na
frente, próximo ao canto inferior esquerdo (e não no teclado como de
costume), e na lateral direita há um botão que impede a rotação
automática da tela.
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| Yoga 13 no modo Tela |
Na lateral esquerda ficam uma saída HDMI (para conexão a uma TV de
alta definição), porta USB 3.0 e um conector para fones de ouvido e
microfone. Na lateral direita há um leitor de cartões SD, porta USB e
conector para o carregador da bateria. Aliás, não sei o que deu na
cabeça dos engenheiros da Lenovo: eles inventaram um plugue retangular
que tem quase que exatamente o mesmo tamanho e formato de um plugue USB.
Felizmente não há risco de ligar o carregador a uma porta USB ou
vice-versa, já que um não encaixa no espaço do outro. Mas visualmente a
confusão é certa.
Na configuração que testamos o Yoga 13 é baseado em um processador
Intel Core i5 dual-core rodando a 1.7 GHz, acompanhado por 4 GB de RAM,
vídeo integrado Intel HD Graphics 4000 e uma unidade SSD de 128 GB (com
cerca de 60 GB disponíveis ao usuário). Não há drive de CD ou DVD, e
acima do monitor há uma webcam capaz de fazer imagens em HD (720p).
Também há interfaces Wi-Fi e Bluetooth.
A parte inferior da máquina é completamente lisa: a bateria é
interna, ou seja, não pode ser removida pelo usuário, e não há nenhuma
portinhola para permitir o acesso aos pentes de memória ou unidade SSD.
Traduzindo: não há possibilidade alguma de expansão do hardware.
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| Yoga 13 no modo Tenda |
Na traseira, sob a dobradiça da tela, ficam os slots de ventilação
para retirar o calor de dentro da máquina. Exceto em momentos onde
exigimos o máximo do processador (como quando rodamos nossos benchmarks)
o Yoga 13 é bastante silencioso, e não podemos reclamar de
superaquecimento.
Software
O Yoga 13 roda a mesma versão do Windows 8 usada em notebooks e
desktops tradicionais. Ou seja, é compatível não só com os apps
“modernos” feitos sob medida para a nova interface do sistema como
também com todos aqueles que você já usa, desenvolvidos para versões
anteriores do sistema. Isso inclui, claro, o Microsoft Office.
A Lenovo inclui poucos aplicativos junto com o sistema, o que é bom.
Há o software de segurança McAfee Internet Security (em versão de
demonstração), o Skype, o app do Kindle, um cliente para o serviço de
streaming de áudio Rara Music, um cliente para o Evernote, outro para o
serviço de armazenamento online SugarSync (que oferece 5 GB de espaço
online gratuito), uma versão de demonstração do Microsoft Office 2010 e
Birzzle, um divertido puzzle no estilo de clássicos como Tetris e
Columns.
Desempenho e autonomia de bateria
Com seu processador Core i5 e 4 GB de RAM, o Lenovo IdeaPad Yoga 13
tira de letra qualquer tarefa do dia-a-dia. Da navegação na web a
tarefas de escritório e reprodução de vídeo em alta-definição.
Como não tem uma GPU dedicada não é uma máquina recomendada para jogos: ela deu conta de games mais casuais como Cut the Rope, Rayman Jungle Run e Hydro Thunder
(todos disponíveis na loja do Windows 8) sem maiores problemas, mas
para rodar um jogo mais exigente como D.I.R.T. 2 com uma taxa de quadros
aceitável (37,5 FPS) tivemos de baixar a resolução para 1280 x 720
pixels e a qualidade gráfica para Ultra Low.
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| Conector da fonte de alimentação. Parecido demais com um conector USB |
Em nosso teste de uso típico, com o brilho da tela em 50%, navegando
na web e ouvindo música via streaming durante todo o tempo, conseguimos
uma autonomia de cerca de 4 horas e meia. É um bom resultado, acima da
média de 3 horas e meia que estamos acostumados a ver, mas não chega a
ser impressionante. Já no teste de reprodução de vídeo, feito com o
brilho da tela em 50% e o aparelho em modo avião, conseguimos uma
autonomia de cerca de 6 horas e 15 minutos.
Veredito
O Lenovo IdeaPad Yoga 13 é um conceito intrigante, e um bom exemplo
de como os fabricantes estão tirando proveito de novas tecnologias em
componentes e novos recursos de software para criar máquinas cada vez
mais ousadas. Se a Lenovo fosse uma montadora, o Yoga 13 seria um carro
conceito.
Infelizmente os carros conceito tendem a ter idéias maravilhosas no
papel, mas que não são tão boas no dia-a-dia, e o Yoga 13 não foge à
regra. Claro que um notebook que vira um tablet é legal, mas pare para
pensar: ele é um tablet grandalhão que pesa mais de um quilo e meio.
E o preço de R$ 5.999 (sugerido pela Lenovo, na configuração testada)
complica as coisas: é possível encontrar nas lojas Ultrabooks de
configuração superior por cerca de R$ 1.000 a menos. É o mesmo problema
de que sofre o HP Envy X2, outro híbrido de configuração mais modesta que passou recentemente pelas nossas mãos.
Ainda assim, como acontece com a máquina da HP, o Yoga 13 é um
indicador da direção que a indústria está disposta a seguir. Outros
fabricantes, como a Dell, a Samsung e a LG,
já oferecem ou anunciaram recentemente seus híbridos, e o número de
aparelhos nas lojas só tende a aumentar. Vá se acostumando com a idéia,
pois seu próximo notebook pode ser bem diferente de seu atual.
Via: IDG Now





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